sexta-feira, 22 de outubro de 2010

COSTA DO SAUIPE E A ECONOMIA DA AMÉRICA LATINA: UM ARTIGO DE BEIRA DE PISCINA


    Alguns falavam  espanhol, sendo, a maioria, oriunda de países da América Latina; outros, falavam inglês, vindos, ou da Oceania ou do hemisfério norte. Muitos (sim, muitos) brasileiros, cuja origem era um canto qualquer desse país de dimensões continentais, também circulavam descontraidamente ao longo do complexo do resort, na Costa do Sauipe.


    Nossa permanência, no Resort Sauipe Fun se deu entre os dias 13 e 17 de outubro e fazia parte de uma viagem de formatura dos 9ºs anos do EG. Reparem bem nas datas: entre 13 e 17 de outubro. Dia 12, terça-feira, fora feriado e, segunda-feira, emenda. Presume-se que, a partir do dia 13, o Brasil tenha voltado às suas atividades normais. Entretanto, o que se via era um "mar de gente", se aproveitando dos 176 hectares de área e sendo atendidas por 1300 funcionários. São, em média, 1200 hóspedes por dia! De acordo com informações da recepção do resort, conforme a sazonalidade, esse número pode aumentar ou diminuir, mas, invariavelmente, há um número considerável de turistas.




    Os voos de ida e volta encontravam-se lotados, bem como os aeroportos de Guarulhos e de Salvador. Inúmeros passageiros embarcavam ou desembarcavam nos portões domésticos e internacionais; muitos voos atrasados e outros tantos cancelados; filas enormes  nos balcões de check-in.
    Muitos desses passageiros, incluindo alunos do nosso grupo, viajavam de avião pela primeira vez. Há alguns anos, o transporte aéreo tem se tornado mais acessível no Brasil. Entretanto, cabe aqui um parêntese: infelizmente, a qualidade dos serviços aéreos não acompanhou essa demanda e, atualmente, pagamos um preço elevado por termos o transporte aéreo ao nosso alcance, no que diz respeito ao conforto, segurança, respeito e qualidade. Mas não entraremos nessa discussão, nesse momento...
    Importa observarmos que, com o transporte aéreo mais acessível, obviamente, maior será o número de passageiros. Mas, será que ocorreu um incremento suficiente na infraestrutura aeroportuária? As empresas aéreas, aeroportos, equipamentos de segurança aérea, estavam preparados para esse rápido crescimento? A resposta, por mais que se diga ao contrário, é NÃO! O crescimento da demanda e o despreparo de todo setor aeronáutico provocou o que se convencionou chamar de "caos aéreo".




    Mas... e a América Latina nessa história toda?
    O mundo vive, desde 2008, uma séria crise econômica que atinge, principalmente, os países do norte: iniciou-se com o crédito imobiliário nos Estados Unidos e, como um efeito dominó (globalização em ação), chegou à Europa  e ao Japão, onde vem provocando severos estragos socioeconômicos. Os países subdesenvolvidos e, obviamente, a América Latina, também foram afetados, mas, segundo especialistas, a região saiu da crise melhor do que entrou. Após a crise, a média do crescimento latino-americano será maior que a média mundial, à exceção do México, que tem sua economia extremamente dependente dos EUA (lembram-se das críticas que fazíamos ao NAFTA em nossas aulas? Não somos "pais-de-santo", mas pudemos antever essa triste realidade).
    A despeito dos ainda graves e amplos problemas da América Latina, podemos traduzir o seu crescimento econômico como melhores salários, mais empregos e, principalmente, menores desigualdades sociais. Ora, o que, melhor do que isso, explicaria o intenso volume de turistas, numa semana relativamente comum, no resort da Costa do Sauípe, ou em tantos outros espalhados pelo Brasil? E o elevado número de passageiros circulando pelos apertados aeroportos brasileiros em busca de um lugarzinho nas também apertadas poltronas de um avião? Isso para não falarmos dos movimentados shoppings centers ou nos lucros dos bancos, que são cada vez maiores, graças à intensa movimentação financeira.
    Para finalizar, devemos considerar que esse crescimento rápido nem sempre é positivo. Estariam o Brasil e toda a América Latina preparados? Teríamos toda a infraestrutura para suportar o aumento da produção e do consumo? Teremos a mão-de-obra qualificada que esse momento de crescimento exige? Recentemente, muitos voos da empresa aérea Webjet foram cancelados porque, segundo a própria empresa, faltavam pilotos e comissários de bordo, que estariam em treinamento para entrar em serviço em meados de outubro. Fazendo uma analogia, o "caos aéreo" pode ser comparado a um possível "caos do crescimento econômico". Esse crescimento está também sustentado por uma grande oferta de crédito (empréstimos) destinado aos países emergentes. Isso é fato importante, mas devemos nos lembrar, sempre, de que graças aos empréstimos, deu-se, na década de 70 o "milagre econômico" brasileiro, mas, uma década depois, a estratosférica dívida externa transformou esse "milagre" na "década perdida", com grande empobrecimento da população, desemprego, inflação e um total declínio econômico.
    Não seria cabível, portanto, a América Latina atentar mais ao seu passado?  


   PS: A ideia de relacionar a viagem à Bahia com a economia latina me ocorreu enquanto eu observava o movimento dos turistas, sentado à beira da piscina do resort. No mesmo dia, iniciei as primeiras linhas deste artigo. Daí o título...

Nenhum comentário: